No final de 2019, surgiram na China os primeiros casos da COVID-19, doença causada pela novo corona vírus que logo se espalhou pelo restante do mundo. Escrevo esse texto em novembro de 2020 e a doença ainda está presente e é um desafio diário lidar com ela. Várias dimensões da minha vida têm sido atravessadas por essa situação. Há muito tempo, por exemplo, não reservava um tempo para me dedicar à escrita livre, ou seja, fora do jargão acadêmico usual ao qual me dedico desde 2010, ano em que iniciei minha graduação. Sempre gostei de escrever poesia, contos, crônicas. No início da quarentena, pensei em usar todo o disponível para escrever novamente. O que planejei não ocorreu. Passei dias e dias, como costumo dizer: avulso. Literalmente, jogado, sem conseguir cumprir alguns prazos, sem nem mesmo conseguir responder aos amigos que me enviavam memes – que tanto gosto, via Facebook ou WhasApp. Às vezes eu sentia muita culpa – confesso que ainda sinto, mas com menos frequência. Em outras ocasiões, tentei entender a situação e ser generoso comigo mesmo. Somente mais recentemente, em que estamos otimistas quanto à espera por uma vacina, é que me senti confortável para voltar aos meus ensaios livres, ao que gosto de fazer. A insegurança que esse ano tem representado por vezes me dominou e me atordoou. Mas não tem problema! A atual situação, apesar das epidemias serem frequentes na história humana, tornou 2020 um ano sem precedentes na vida de qualquer pessoa. A ponto de nem mesmo os nossos pais, por exemplo, que no meu caso são as pessoas com quem me sinto em segurança, terem vivenciado experiência parecida ou possuírem referências para nos consolar. Assim, muitas saídas e soluções para ansiedades foram construídas (e ainda estão) de forma conjunta. É por isso que nesse desabafo agradeço as pessoas especiais que, de perto ou de longe, diante do isolamento que a situação atual pede, tem sido pacientes e parcerias leves nessa caminhada. Tempos de pandemia tem nos ensinado que ser criativo ou produtivo pode simplesmente significar sobreviver. Do lado de cá, eu seguirei tentando, deixando a beleza e a poesia, a qual tanto pretendi me dedicar no início da quarenta, a cargo de Guimarães Rosa, que não errou quando disse que “a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Beijos e abraços!Clique aqui para editar. Sobre o autor: Ramon Feliphe de Souza é doutorando do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde, e estuda temas ligados à História do Norte de Minas Gerais, as relações entre ferrovias, meio ambiente e saúde, a Ação Social da Igreja Católica no século XX e o envolvimento desta instituição no apoio a programas de desenvolvimento rural no Brasil. E-mail: [email protected]
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AutoresAna Cláudia Teixeira de Lima, PPGHCS/COC/Fiocruz Arquivos
Novembro 2020
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