Por dentro, Vejo uma linha. Pesco a ponta e sigo no lento. Um baixo que passeia nas minhas entranhas, Quase sanguinolento, de baixo pra cima, desenha todas as façanhas, Do infinito grave convoco minha mulher menina. De dentro pra fora, Emerge sem entrave, Faz do flow escola, antes que esse mundo se acabe! Vai ter churrasco no Planalto, para celebrar os saldos das perdas invisíveis ao fascismo, que trocou o verde oliva pelo rosa e salto alto. Nossas costas são largas, Carregamos nelas tudo o mais e a morte, Não esqueceremos, Que nos deixaram à sorte. Que esnobaram um pseudo “atleta” Sobre um povo que tem a saúde como infinita: fila de espera! Revejo a linha, (Re)pesco, tropeço, Falta respirador, Quase alcanço a ponta, Afogo-me ao lembrar, Fico tonta, Não estou no mar, Vidas esperam sozinhas a partida sem tato, Quem será o próximo rosto (conhecido ou não) A ter enterro sem abraço? Consolo à distância, Como faço? Em qual absurdo mergulhamos, me diga? Não foi o da loucura, antes fosse! Estamos na mão de um genocida! Lá fora lockdown e aqui dentro, expropriada, nua, Sem poder incendiar a esquina, Chama o Tranca-Rua! Contra tudo isso habitamos nossas fortalezas, Construções sensíveis, Ontologias que a intolerância não conseguiu acabar. Universo de destrezas, Cujo som não puderam silenciar: A linha, o baixo, o tambor, o caminho. Natália Carvalhosa vive na Zona Oeste do Rio de Janeiro. É antropóloga e Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, UFRJ. Atualmente realiza sua pesquisa junto aos refugiados da Guerra Síria que trabalham com comida em São Paulo. Utiliza-se da poesia, fotografia e música como formas de expressão. E-mail para contato: [email protected] Os comentários estão fechados.
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AutoresAna Cláudia Teixeira de Lima, PPGHCS/COC/Fiocruz Arquivos
Novembro 2020
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